domingo, 2 de dezembro de 2012

ORIGEM DA CAPOEIRA - PARTE IV/VI



PARTE IV/VI

Como aqui era a sede do Governo Geral, havia Câmara, havia Juiz, havia todo um assentamento legal, tinha um pelourinho. É natural que toda essa gente precisasse de comer e a Baía de Todos os Santos, o maior acidente geográfico dessa natureza aqui no Brasil, com suas águas calmas, propiciava que no seu entorno houvesse, além desses engenhos, criação de gado, criação de galinha, plantação de hortifrutigranjeiros, e o transporte dessas cidades que foram chamadas zonas do recôncavo, São Felix, Cachoeira, Maragogipe, Nazaré das Farinhas, Muritiba, o transporte era feito por embarcações dentro da baía, também com mão de obra escrava. Além desses fatores políticos e geográficos, tem um fator humano interessante. Duas figuras históricas, logo no começo da colonização, ajudaram muito o desenvolvimento e a criar um ambiente de certa tranquilidade. Os índios que eram uma ameaça, uma dificuldade, em outros locais do Brasil, aqui o nosso Caramurú, Diogo Alvares Correia, casou-se com duas filhas do cacique e tinha um trânsito muito bom entre os indígenas. 

Castelo da Torre - 1ª edificação portuguesa no Brasil
Um parente de Tomé de Sousa, da família Garcia D'Avila, a cerca de 100 Km ao norte de Salvador, construiu o Castelo da Torre, que existe até hoje, e também tinha uma ascendência muito grande sobre os índios. Criou gado. Tinha um exército particular maior do que o exército português. A esquadra portuguesa podia ter abrigo na nossa baía. Todas essas condições levaram a uma população expressiva aqui em Salvador e uma quantidade muito grande de mão de obra escrava. Bom, à medida que o escravo, também tradição da capoeira, não aceitar o domínio, abrindo um parêntese, esse domínio, na época por um fato histórico foi do branco sobre o negro, mas Mestre Bimba sempre falava que capoeira não tem cor e nem tem dono, capoeira é um pensamento, muito mais do que uma luta é uma estratégia, ele não chamava de estratégia, chamava de malandragem, mas agente pode traduzir por estratégia, de você não aceitar o domínio do mais forte sobre o mais fraco. Pode ser um domínio econômico, pode ser um domínio físico, pode ser um domínio político, pode ser até o domínio do marido sobre a mulher. Hoje, esse domínio é daquele que detêm o capital sobre os que tem pouco ou nada tem. Mas não é uma coisa exclusiva da etnia negra, o conhecimento é uma coisa universal.


PARTE III
Bom, o local do Brasil, com toda certeza, seria aquele que no início da colonização, a segunda metade do século XV, XVI, XVII, houvesse uma quantidade muito expressiva de mão de obra escravo e condições ambientais para que a capoeira se desenvolvesse. Aqui na Bahia, a cidade de Salvador, foi fundada em 1549. O governo Português, preocupado em colonizar aquela extensão enorme de terra, tentou primeiro dividir em faixas, que chamou de capitanias hereditárias. 

Chegada de Tomé de Sousa à Bahia - Gravura sec XIX
Mesmo durante a vigência das capitanias, havia necessidade de uma representação, vamos dizer assim, oficial do governo português, um mínimo de legalidade e foi fundada a cidade de Salvador aqui no Estado da Bahia, onde ocorreu também o primeiro arcebispado, o primeiro hospital, que foi a Santa Casa da Misericórdia, mais tarde a primeira Faculdade de Medicina, do Brasil, e até 1808, quando veio a Família Real Portuguesa para o Brasil e transferiu a capital para o Rio de Janeiro, o grande movimento de pessoas, de atividades produtivas e de mão de obra escrava, foi aqui. Duzentos e cinquenta anos. É verdade que algumas capitanias, como São Vicente e Pernambuco, tiveram sucesso relativo, mas nós estamos falando de seis, no máximo 10, engenhos, por exemplo. O historiador e Governador da Bahia Luiz Viana Filho, com base nas pesquisas de Wanderley de Pinho, apontou 31 engenhos no entorno da Baía de Todos os Santos, em 1630. Imaginem, 31 engenhos, tudo isso movido a mão de obra escrava. Continua na Parte IV





Nenhum comentário: