domingo, 4 de agosto de 2013

RACISMO E DISCRIMINAÇÃO


OTO MALTA é Professor e pesquisador.
Vale esclarecer na introdução deste trabalho, que o título mais adequado seria “Igualdades e Desigualdades”, o verdadeiro tema e objetivo principal de pesquisa e análise.
Entretanto, se a função do título é despertar atenção, a simples colocação das palavras RACISMO E DISCRIMINAÇÃO já provocam emoções e sentimentos contraditórios, contribuindo para estimular o interesse de quem ouve ou lê.
Quando simples palavras fazem surgir sentimentos fortes pelos conceitos que elas encerram, é fácil avaliar o nível de emoção dos que vivenciam situações de conflito geradas por racismo e discriminação.
Considerando que a emoção distorce a percepção e a compreensão do comportamento e atitudes humanos, provocando enganos de julgamento, o objeto deste estudo está na análise da seguinte teoria: 

ATITUDES DE RACISMO E DISCRIMINAÇÃO SÃO CONSEQUÊNCIAS DE AVALIAÇÕES EQUIVOCADAS DAS DESIGUALDADES

As pesquisas quando agrupam dados trazem informações. A interpretação destas informações deve ser feita racionalmente, com neutralidade, isenção de ânimo – nunca emocionalmente, para evitar distorções e enganos. É difícil raciocinar sem emoção e com equilíbrio quando se trata de questões raciais. 
Afinal, os seres humanos são ou não são iguais entre si?
A resposta é simples: depende do contexto em que a igualdade estiver colocada.
  • Contexto racial.
Os antropólogos que estudaram o desenvolvimento do homem primitivo concluíram que a superfície da terra não foi toda ocupada simultaneamente. A humanidade originou-se na África e foi migrando para outras localidades por terra ou utilizando embarcações primitivas. As pesquisas apontam migrações da África para a Ásia e Europa, inclusive passando para as Américas pelo estreito de Bering durante invernos rigorosos. Thor Heierdal com sua jangada Kon-Tiki demonstrou a viabilidade de deslocamento das embarcações primitivas por milhares de milhas náuticas.
Por outro lado, independente das características físicas, todos os seres humanos têm o mesmo DNA básico.
Portanto, “raça” passou a ser um conceito superado, um engano. Não existe a chamada “raça pura”, todos têm a mesma origem.
Neste contexto os seres humanos são iguais – todos mestiços.
  • Contexto étnico.
O que é uma etnia? Um grupo de pessoas com as mesmas características étnicas. Deixando de lado as características culturais (língua, nível de conhecimento, religião, etc.) e destacando as características físicas, algumas delas são evidentes:
O formato do rosto, o desenho e a cor dos olhos, a textura dos cabelos, a cor da pele. 
É lógico que as pessoas de grupos étnicos diferentes não podem ser iguais – o que nada tem a ver com estética, beleza. Em todos os grupos existem pessoas feias e bonitas.
Qual a razão desta desigualdade? Segundo Darwin trata-se de adaptação ao meio ambiente. Ao longo dos séculos os seres humanos, animais e vegetais vão mudando ou acentuando algumas características para sobreviver no meio onde vivem.
Exemplos: 
A - existem ursos marrons, pretos e brancos. Por que no Polo Norte só têm ursos brancos? Seriam eles melhores ou piores do que os outros? Nada disso, a imensa quantidade de neve e gelo torna tudo branco e sendo o urso um animal enorme. se ele for de outra cor se destaca e não consegue caçar focas e outros animais, dos quais se alimenta. A caça percebe sua aproximação, se distancia e foge. Para sobreviver no Polo os mais brancos levaram vantagem até que só ficaram os desta cor.
B - hoje o ser humano na África dispõe de casa, ar condicionado, geladeira e roupas adequadas. Os seres humanos primitivos não tinham estes confortos e proteção – os mais claros não aguentavam o calor e o sol. Para sobreviver na África os mais escuros levaram vantagem até que predominaram os desta cor.
Neste contexto – maior ou menor facilidade de adaptação ao ambiente -  os seres humanos eram desiguais, com o desenvolvimento da tecnologia que climatizou as residências, meios de transportes e locais de trabalho restabeleceu-se a igualdade.
  • Contexto legal.
De acordo com a maioria das Constituições vigentes nos países, inclusive a brasileira, todos somos iguais perante a Lei. Se nem todos podem pagar um bom advogado, a desigualdade é financeira e não étnica. Vale lembrar que o Presidente do Supremo Tribunal Federal é negro e que em qualquer etnia existem pessoas boas e más, honestas e desonestas.
  • Contexto de empregabilidade.
Na inserção do mercado de trabalho prevalecem avaliações de habilidades, conhecimentos e competências, naturalmente estabelecendo desigualdades.
Na análise das informações, dados agrupados podem gerar interpretações equivocadas destas desigualdades, tais como existir maior capacidade em determinada etnia (branca) e/ou discriminação racial, considerando os resultados das pesquisas:

  
BRANCOS
AFROS DESCENDENTES
Maior % de nível universitário
Percentual mais baixo de NU
Ocupação de postos de chefia
Funções mais simples
Melhores salários
Salários mais modestos
Possibilidade de carreira
Permanência na função


A abolição da escravatura ocorreu há cerca de 120 anos (1888), aproximadamente há três gerações. É um período relativamente curto para uma família evoluir, saindo do analfabetismo e da extrema pobreza para ocupar um lugar de classe media na sociedade. As péssimas condições financeiras das primeiras gerações dificultam o acesso ao conhecimento e desenvolvimento das habilidades e competências das gerações seguintes.
No Brasil, graças à má distribuição da renda, os serviços públicos notadamente educação e saúde, são de baixa qualidade.
Os pobres não podendo pagar bons médicos, hospitais, escolas e faculdades, consequentemente, vão apresentar desenvolvimento mais baixo – a maioria dos afrodescendentes está na faixa de baixa renda. 
Mais uma vez, as desigualdades ocorrem como consequência de fatores financeiros que influenciam o acesso à saúde, educação e ao conhecimento, nada tendo a ver com a etnia. 
A conclusão é óbvia: racismo e discriminação consistem exatamente na tentativa de relacionar características físicas (formato dos olhos, cor da pele, textura dos cabelos) com habilidades e competências. 
Vivendo numa sociedade competitiva, algumas pessoas tentam desacreditar possíveis concorrentes, utilizando falsos relacionamentos como a cor da pele e a baixa capacidade.
As pessoas não são iguais, mas as desigualdades são individuais – não são étnicas. 
A comprovação desta afirmação está nas posições de destaque dos indivíduos afrodescendentes, que tiveram condições de educação e/ou treinamento para desenvolver suas habilidades e competências.
Alguns exemplos globais nas mais variadas áreas de atividade:


NOME
DESTAQUE
Joaquim Barbosa
Presidente do STF no Brasil
Barack Obama
Presidente dos EEUU
Venus e Serena Williams
Campeãs mundiais de tênis
Tiger Woods
Campeão de golf
Lewis Hamilton
Campeão fórmula I
Edvaldo Brito
Professor Universitário, Vereador Salvador
Martin Luther King
Ativista político
Edson A.Nascimento (Pelé)
Campeão mundial de futebol
Nelson Mandela
Prêmio Nobel da Paz
Mestre Bimba
Mestre de Capoeira, Doutor Honoris Causa pela UFBA




Autor: Oto Malta (Urso Branco)


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