segunda-feira, 19 de novembro de 2012

DIÁRIO DE UM CAPOEIRA - PARTE III


Mestre JAMAICA - 2ª geração BIMBA


Mestre Jamaica com sua filha

Ainda em Itacaré-BA, encontramos com Mestre Jamaica. Foi um contato rápido e não programado. Já à noite, retornando do encontro com Mestre Peroá, escutamos som de berimbau vindo de um restaurante e entramos. Estava havendo um show de capoeira com Mestre Jamaica e seus alunos. 


Capoeiristas se revezavam em show de acrobacias sob o ritmo frenético dos berimbaus, atabaques e pandeiros, corpos seminus, suados a cântaros, disputando a participação na roda, sob flash das máquinas digitais que disparavam a cada segundo e olhares extasiados de turistas, delirando de emoção. Para eles, um espetáculo emocionante. Justapondo-se aos saltos acrobáticos, os golpes eram disparados com velocidade e sem preocupação com a técnica, um jogo rústico, jogo de rua.


Penso que essa forma de capoeira se aproxima em alguns aspectos da capoeira dos séculos XVIII e XIX, quando era praticada nos portos em que chegavam os navios negreiros.  
As rodas se formavam espontaneamente e o sentido da luta era a demonstração das habilidades de cada um, não para turistas, mas para o grupo. Nú da cintura pra cima, como se dizia naquele tempo, cada um mostrando suas competências. Vez por outra o cenário mudava e o que era jogo passava a ser luta, porrada mesmo! 

É raro, mas pode acontecer, que durante um show, uma dupla possa vir a se engalfinhar, havendo, nessa situação, a intervenção do mestre. Esse impulso vibrante que os levam ao delírio,  a jogar além dos seus limites, não pode ser entendido como uma falta de conduta esportiva, porque essa ausência de domínio das emoções integra o conjunto de valores transmitidos, através do processo de socialização entre gerações, isto é, a herança cultural, que não deve ser apagada.

Os alunos de Mestre Bimba treinavam seminus, ou seja, somente de calça. E durante os treinos não era raro ver pessoas se engalfinhando, trocando porrada. Certamente por essa razão que Mestre Bimba instituiu o "esquenta banho", momento em que as arestas eram aparadas.

Ao final da apresentação me aproximei de um dos participantes e perguntei quem estava conduzindo a roda, já que não conhecia o mestre. Ao ser identificado como discípulo de Mestre Bimba imediatamente fui levado ao mestre Jamaica que me recebeu com urbanidade e lhaneza. Mestre Jamaica pertence à 2ª geração de Bimba, Discípulo de Mestre Ezequiel (1ª geração de Bimba).










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